domingo, 16 de novembro de 2014

Ouvindo São Paulo?

Olá pessoal,
Muitos de vocês já me conhecem pelo blog sobre psicologia, este, pretende ser um blog pessoal e mais direcionado para as situações que vivencio como deficiente auditiva.
Falar sobre deficiência auditiva não costuma ser uma coisa fácil, diferente de quem usa óculos, muitas vezes os Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI) ficam escondidos, e assim como ninguém chega se apresentando com dificuldade visual, ninguém se apresenta com dificuldades auditivas. Isto é parte do problema, a outra parte é que simplesmente não fomos educados para lidar com a deficiência, seja a nossa, seja a deficiência alheia.
Até 2009, eu não conhecia ninguém que compartilhasse das mesmas dificuldades que eu. Não sabia como falar com alguém sobre isso, ou o que falar, eu sempre tinha a impressão que era uma coisa muito pessoal, muito minha, os deficientes auditivos deveriam estar em algum lugar do mundo que eu não conhecia. Embora tenha feito curso de LIBRAS a falta de pratica caiu no mais profundo esquecimento, nunca me senti parte deste mundo sinalizado. Em 2009 conheci os blogs da Paula Pfeifer e depois o da Lak Lobato. Os anos em que fiz Psicoterapia foram muito importantes para a aceitação da minha deficiência, melhora da minha auto estima, para a aceitação do uso de AASI e exploração disto, que as vezes parece uma vantagem e não uma deficiência. Mas conversar com outras pessoas sobre isso e que passam pelas mesmas coisas que eu, foi que realmente fizeram com que eu me sentisse parte do mesmo mundo de todos os outros. Falar sobre minhas vivencias é uma tentativa de aproximar mais as pessoas que transitam entre o mundo do silencio e o mundo sonoro, acolher as dificuldades e mostrar que não estamos sozinhos, temos experiencias que podem ser únicas, mas que podem ser semelhantes e saber dessas semelhanças é que faz com que nos sintamos "normais" ou pertencentes ao mesmo universo.
Ouvindo São Paulo é a forma como resolvi marcar minhas vivencias pessoais. Nasci em Jaú (interior do estado), provavelmente com alguma perda, eu era um bebe calmo e dorminhoco. Minha mãe teve uma rubéola fraca durante a gestação e provavelmente foi o que afetou minha audição. Nem portas e janelas me acordavam, mas eu aprendi a falar no tempo certo, mesmo tendo falado por muito tempo errado. E a leitura labial foi minha grande aliada, meu diagnostico de deficiência auditiva veio por volta dos 10 anos de idade e até os 17 anos não aceitei o uso do AASI por vergonha. Não queria parecer diferente das outras pessoas. Aos 18 me mudei para Campinas para estudar Psicologia. Em 2001 vim para São Paulo. Entre 2002 até 2006 morei em Jaú e fiz varias indas e vidas para a capital e em 2007, com casamento fixei residencia. São Paulo é uma cidade barulhenta. As vezes tenho a impressão que as buzinas no transito diminuíram, mas ainda acho o barulho do Metro muito alto e desagradável. E ali no meio da Avenida Paulista, entre tanto concreto e vai e vem das pessoas ao telefone e dos carros, tem um músico ou a risada de uma criança. Ouvir é bom demais.

Sejam bem vindos,
Raquel.

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